
Assistimos no último dia 20 ao discurso de posse de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos. Suas palavras na solenidade de posse e posterior assinatura de inúmeros decretos executivos apenas confirmaram o que havia sido prometido durante toda a campanha eleitoral.
Confirmou-se a instituição de um governo plutocrático, com a liderança dos ricos e decisões políticas tomadas de acordo com os interesses dessa classe. Com a desculpa de ‘salvar a América’, Trump e seus pares começam a praticar, internamente, uma política de intolerância e perseguição, ao modo fascista, notadamente aos imigrantes, à comunidade LGBTQIA+ e que deverá estender-se a quaisquer outras minorias que eventualmente possam vir a contestar a ideologia imposta pelos supremacistas brancos. O ativismo da Ku-Klux-Klan se fortalece nesse contexto.
Essas ameaças e bravatas, no entanto, não estão restritas às fronteiras do país, elas transcendem seus limites territoriais e atingem o Panamá, o México, a Groenlândia e até o Canadá. No caso do Panamá a questão está relacionada ao Canal, importante passagem marítima entre o Atlântico e o Pacífico, estratégica para o comércio da China com as Américas. Trump quer reaver a soberania norte-americana sobre o Canal com a intenção de retaliar comercialmente a China, país que enxerga como inimigo.
Quanto ao México, que eles chamam de problemas da ‘fronteira sul’, Trump desfecha seu mais violento ataque e pretende aumentar o policiamento, usando até as forças armadas, para impedir que latino-americanos ingressem nos Estados Unidos. Segundo suas declarações, não descartam incursões da polícia americana no território mexicano para perseguir criminosos, numa clara violação ao Direito Internacional. Outra atitude cheia de simbolismo imperialista é a decisão de mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América.
A ocupação ou anexação da Groenlândia (região autônoma pertencente à Dinamarca) se justificaria por razões geopolíticas e econômicas. A primeira deve-se ao fato dessa região estar muito próxima ao Polo Norte e transitar, em suas proximidades, muitos navios russos. As razões econômicas são as riquezas minerais que possui seu subsolo.
No que toca ao Canadá, talvez Trump o considere tão próximo, não só porque são fronteiriços, mas, também, por possuírem algumas semelhanças culturais, inclusive o idioma e aspectos de suas colonizações. Seria apenas uma anexação natural. Claro que muitos americanos gostariam disso, uma vez que o padrão médio de vida dos canadenses é muito superior ao estadunidense. Os canadenses não gostaram da ideia.
No que diz respeito à nossa região, Trump declarou que “a América do Sul precisa muito mais dos Estados Unidos que nós deles’. Ou seja, pouco se importa conosco. No contexto mundial, Brasil incluso, ameaçou retaliar comercialmente (em princípio), com elevação de tarifas de importação e outras medidas aduaneiras, qualquer país que contrarie a política norte-americana nessa área. Isso quer dizer que irão fazer de tudo para que se beneficiem nessa atividade, impondo exigências às outras nações para que se comportem de acordo com seus interesses.
Nessa história entram os BRICs, grupo econômico multilateral ao qual o Brasil pertence e é um de seus fundadores. Trump denominou de ‘países Brics’ e não permitirá que seus integrantes (em princípio Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) façam transações comerciais utilizando suas próprias moedas em detrimento do Dólar norte-americano. É mais uma ameaça ao Direito Internacional e Autodeterminação dos Povos. Trump sabe que, se a moeda estadunidense perder a hegemonia nas transações internacionais, o poder dos Estados Unidos sofrerá expressiva deterioração, daí sua grande preocupação.
Bem, a sorte está lançada. Vamos ver até onde irão as atitudes narcisistas de Trump nessa sua campanha de fazer com que a América do Norte recupere sua importância no cenário mundial e quiçá, volte a ser a potência imperialista que se estabeleceu a partir dos anos 1950, no pós-guerra e que, aliás, de lá para cá, nunca deixou de ser, embora experimente, nessa quadra da história, uma clara decadência e ameace, com as atitudes do novo presidente, a já precária estabilidade global.
Airton dos Santos – Economista
Subseção do Dieese no Sindnapi
Jan./2025