*Airton dos Santos

O grande monstro que ameaça o país é o crescimento da economia. Apesar de ser o principal objetivo da política econômica, qualquer lampejo de elevação da produção e aumento da renda que apareça no horizonte, logo surgem os urubus, digo, os economistas da Faria Lima, dizendo que isso não é bom, que é preciso desacelerar.

A grande mídia, tendenciosa, cega ou ignorante, passa, imediatamente, a ecoar o temor malicioso dos economistas dos banqueiros. Passam a arengar que o crescimento acelera a inflação e desestabiliza a economia. Mentira! A taxa de crescimento é muito pequena para provocar disfunções no sistema econômico.

Aceitando argumentos desse tipo, concordamos, também, que o Brasil está num beco sem saída, ou numa situação de que ‘se ficar o bicho come, se correr o bicho pega’. É cristalina como água a urgência de o país crescer, não temos alternativas, precisamos sair do marasmo em que nos encontramos e avançar, melhorar as condições de vida da população. Por que nos impedem de fazer isso?

Crescer é vital. Temos potencial para fazê-lo, mas não podemos. É isso que o mercado financeiro, através de seus porta-vozes, descaradamente afirma todo o tempo. Se não aceitarmos suas imposições, manobram para desestabilizar o governo, com a ajuda da grande imprensa e da extrema direita encastelada no Congresso Nacional.

Enquanto o governo vai em direção ao crescimento e desenvolvimento econômico e social, a Faria Lima insiste em jogar baldes de água fria no projeto. Fazem isso pressionando o Banco Central a elevar as taxas básicas de juros.

Vamos estudar um pouco de economia para desvendar esse ‘mistério’. A taxa de juros básica, a Selic, é a que remunera os títulos públicos, é quanto custa a dívida pública: maior a Selic, maior a dívida e vice-versa. Quando, então, se eleva a taxa Selic, aumenta com ela o tamanho da dívida pública, o que não é bom, pois sinaliza que o governo está ficando mais endividado.

Se aumentam mais os juros, a situação não melhora, pelo contrário, piora para quase todo mundo: (1) para o governo, que vê sua dívida aumentar, (2) para as pessoas que, além de verem os serviços públicos se deteriorarem – pois o governo passa a gastar mais com os juros da dívida e tira recursos de outros setores – ficam desempregadas pois a economia reflui. Mas, como dissemos, a situação fica ruim para ‘quase’ todo mundo, os bancos continuarão ganhando. É só verificar, indo bem ou mal o setor produtivo, havendo ou não muito desemprego, os bancos batem recorde de lucros todos os anos. Não é impressionante …

E se as taxas de juros não aumentassem. Observamos que, com as taxas de juros atuais, já consideradas altas, fora de propósito, a economia vem crescendo. Os investimentos voltando, o desemprego diminuindo, o consumo das pessoas aumentado, com isso, mais pagamento de impostos e maior receita fiscal. Com mais recursos, o governo planeja investir mais em infraestrutura, saúde, educação, saneamento, tecnologia, seguridade social e assim por diante.

Mas o mercado financeiro não quer que a maior receita do governo seja utilizada para essas coisas, quer, sim, que o aumento de receita vá para suas mãos. Por esse motivo desonesto, inicia uma campanha de elevação dos juros. Subindo os juros, sobem também seus ganhos. Simples assim, não têm o menor compromisso com a nação.     

Essa prática é repetida ao longo da história recente do país, embora nem sempre tenha sido desse jeito. O Brasil chegou a ser o país mais industrializado do Hemisfério Sul e o agronegócio ganhou proeminência e importância em todo mundo graças a uma compreensão diferente, desenvolvimentista, compromissada com os destinos do país, nada comparado com o que assistimos hoje em dia.

Não é a estagnação que vai nos salvar, nem o desemprego, nem a pobreza, mas o crescimento. Já passou da hora de a sociedade civil organizada, incluindo o Movimento Sindical, se rebelar contra essa imposição ideológica que os bancos e o mercado financeiro exercem sobre o resto da nação. O custo de nossa passividade é o aumento da desigualdade e a precarização da vida e das relações sociais no país.   

*Economista e técnico responsável pela subseção do Dieese no Sindnapi