O etarismo (ou idadismo) pode ser definido como o preconceito e discriminação em relação à idade de uma pessoa, geralmente com 60 anos ou mais de idade.
O etarismo é construído a partir de um encadeamento e adensamento de visões, compreensões e entendimentos a respeito de pessoas idosas. Cria-se uma imagem preconcebida, estereotipada e preconceituosa, que se generaliza e estigmatiza as pessoas mais velhas, sem que se faça uma reflexão mais profunda sobre as consequências desse comportamento, que se torna senso comum e passa a ser naturalizado por boa parte da sociedade.
A maneira de se vestir, de se portar, de se expressar, de falar e certa inabilidade/dificuldade com as tecnologias digitais, passam a ser compreendidas como uma inadequação do idoso ao mundo que vivemos. Ocorre, então, uma espécie de choque intergeracional.
Esse estereótipo que, gratuitamente, se cria do idoso, acaba gerando e disseminando a discriminação, que vai incomodá-lo em vários aspectos de sua vida.
O Etarismo Econômico se manifesta de várias maneiras, que vai desde a dificuldade que o idoso enfrenta para a locação de imóveis, até a contratação de um plano/seguro de saúde, sem nos esquecermos das restrições que lhes são impostas quando pretende tomar algum crédito no banco.
No entanto, a discriminação mais aguda e restritiva que as pessoas de 60 anos ou mais se depara ocorre no mercado de trabalho. Esse mercado passa por transformações rápidas e profundas e atinge, entre outros, os trabalhadores mais idosos, privando-os de exercerem suas profissões e ganharem seus sustentos.
No Brasil, cerca de 7 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, fazem parte da PEA (População Economicamente Ativa), contingente que está empregado, procurando emprego ou tentando se deslocar de um emprego para outro. Essas pessoas encontram enormes dificuldades para se colocarem novamente no mercado se, eventualmente perdem a vaga de emprego.
Pesquisa da consultoria Ernest & Young, realizada em 2022, com 200 empresas no Brasil, observou o comportamento do mercado de trabalho para indivíduos com 50 anos ou mais de idade. A pesquisa mostrou que as empresas possuem de 6% a 10%, apenas, de funcionários nessa faixa de idade em seus quadros.
O estudo também revelou que 78% dessas empresas mostraram-se etaristas, isto é, possuem barreiras para a contratação de trabalhadores de mais idade, muito embora, e aqui encontramos uma contradição, essas mesmas empresas, e muitas outras, exigem experiência profissional para contatarem mão de obra, atributo esse, que só os mais velhos possuem. Fica, então, explicito o preconceito, que leva à discriminação dos candidatos mais velhos, muito embora possuam as habilidades exigidas e experiência para o trabalho.
Em linhas gerais, o etarismo pode ser mitigado tomando-se, no campo institucional, algumas providências. Um estudo da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em 2021, considerou que o problema pode ser amenizado adotando-se três providências:
- Instituir leis e fazer políticas públicas específicas para reduzir o preconceito e discriminação dos idosos, com firme monitoramento, tanto no âmbito nacional como internacional;
- No campo educacional, desde a educação infantil até a universidade, no sentido de criar, logo cedo, empatia para desmistificar as diferenças entre as faixas etárias, que auxiliem a reduzir o impacto social da questão;
- O contato intergeracional, a medida mais eficiente das três, no entendimento da ONU. Trata-se da interação entre indivíduos de diversas idades. Isso ajudaria a reduzir os estereótipos e as consequências negativas que provocam em toda a sociedade.
Especificamente em relação ao Etarismo Econômico, seria interessante um plano educacional para levar, para dentro das empresas, o assunto para uma discussão séria em suas políticas de contratação, até mesmo para conscientizá-las de que a população está envelhecendo e que essa questão estará cada vez mais presente. A partir disso, poderiam implantar:
- Programa de recrutamento inclusivo, com processo seletivo que valorize a experiência e habilidades, independentemente da idade;
- Desenvolvimento profissional contínuo, com programas de capacitação e treinamento específico para empregados mais velhos;
- Mentoria intergeracional com iniciativas para troca de conhecimentos entre diferentes gerações;
- Flexibilidade no trabalho, com horários adaptados e opções de trabalho remoto para atender às necessidades dos trabalhadores mais velhos.
Por último, mas não menos importante, o Movimento Sindical, que representa diversas categorias profissionais, deveria introduzir nas convenções e acordos coletivos negociados com sindicatos patronais e empresas, cláusula que proíba seus representados de impor barreiras ou dificultar a seleção de pessoas idosas quando abrem vagas de emprego.
Idade não é sinal de debilidade, tampouco de inadequação às novas formas de trabalho ou de impossibilidade de continuar levando uma vida produtiva. O idoso pode sim, ocupar inúmeros postos de trabalho, com a vantagem de agora possuir mais experiência, tanto para realizar a tarefa que lhe foi designada e, também, por possuir, nessa etapa da vida, maior facilidade no relacionamento interpessoal dentro do ambiente empresarial.
Airton dos Santos – Economista
Subseção do Dieese no Sindnapi