Airton dos Santos – Economista

A postura do governo federal frente ao recente movimento ascendente dos preços, que resultou em uma aceleração do índice de inflação no mês de fevereiro, foi de manter o crescimento.  

O governo prevê um recuo da inflação a partir do mês de março, pois deve haver um aumento menor nos preços dos alimentos e uma estabilização nas tarifas de energia elétrica. Se isso de fato ocorrer, e há indícios de que aconteça, o índice geral da inflação deve recuar. Do lado dos alimentos, a próxima safra deve ser recorde, aumentando a oferta e forçando a queda dos preços e, do lado da energia elétrica, o regime de chuvas deve suprir as necessidades de produção de energia nas hidroelétricas, sem que haja necessidade a recorrer a alternativas mais custosas. Outro fator que deve ser considerado e que também concorre para a queda da inflação é o recuo da taxa de câmbio.

A manutenção do crescimento econômico é crucial, pois garante mais empregos, mais consumo e maior arrecadação tributária que, por sua vez, assegura o equilíbrio das contas públicas e a manutenção dos programas sociais. Assim, o ajuste fiscal, perseguido pelo governo e cobrado pelo mercado, só é possível com a expansão do PIB. O preço, que ora a sociedade está pagando, é o repique da inflação que, no momento, é puxada pela alta dos preços dos alimentos e da energia elétrica, dois itens que oneram demasiadamente a parcela mais pobre e vulnerável da população, fazendo aumentar seu custo de vida.   

A decisão de sustentar o crescimento econômico funciona, também, como um contrapeso à exorbitante taxa de juros fixadas pelo BC, que tem como objetivo reduzir o ritmo de crescimento. Para compensar esses juros, o governo tem tomado medidas que procuram sustentar o consumo, o emprego e o ímpeto da atividade econômica. Facilitar as condições para acesso ao empréstimo consignado, liberar recursos do FGTS aos trabalhadores demitidos que aderiram ao saque-aniversário, isentar de imposto de renda rendimentos iguais ou menores a R$ 5 mil, manter o ganho real do salário mínimo, por exemplo, são medidas que contribuem para manter a economia aquecida.

Do ponto de vista político, o governo tem se preocupado muito com a alta dos alimentos, questão fundamental para 2026, ano de eleição. Isso o obriga a solucionar o problema o quanto antes, este ano ainda. A aprovação do governo caiu com maior intensidade no estrato de renda até dois salários mínimos, entre as mulheres e na região Nordeste, ou seja, entre os eleitores que sentem mais o aumento da cesta básica, pois gastam a maior parte de seus rendimentos na aquisição de alimentos. Além disso, foram esses eleitores que garantiram a vitória de Lula nas eleições passadas.   

O que preocupa é a falta de tempo. Não é mais possível pensar no longo prazo para mitigar o problema, pois as eleições serão no próximo ano. Nesse sentido, parece ser correta a decisão do governo em apostar no crescimento, apesar de todas as restrições postas pelo mercado financeiro e os grandes veículos de comunicação. O grande temor dessa gente é o governo perder o controle das contas públicas e a inflação disparar, reduzindo seus ganhos com a dívida pública.

Ocorre que o aumento da demanda devido ao aumento do emprego é importante, mas não é a única questão a ser observada. Junto com a demanda, o investimento das empresas deve também crescer, pois é ele que aumentará a capacidade produtiva da economia no futuro e, portanto, a sustentabilidade do crescimento no longo prazo. Isso quer dizer que o governo tem grandes decisões estratégicas para resolver. Se tomar alguma decisão de esfriar demais a economia, irá provocar uma retração nas expectativas das empesas, que reduzirão os investimentos, desacelerando o crescimento presente e futuro.

De imediato, reduzir a taxa de inflação, que chegou em 1,31% em fevereiro (a mais alta para o mês desde 2003) é o mais importante a fazer. Caso não consiga, o BC elevará ainda mais a taxa básica de juros no segundo semestre, causando graves problemas para o crescimento da economia e piorando as condições de financiamento do setor público. Nesse cenário, vencer as eleições será muito mais difícil.

É uma ‘escolha de Sofia’. Se frear demais o crescimento, será criticado e sofrerá oposição de sua base e dos próprios partidos aliados, se pisar no acelerador e não conseguir conter a inflação, a oposição no Congresso, seguida pelo mercado financeiro e a imprensa conservadora, consolidará ainda mais sua postura de intransigência em relação ao executivo, que terá de encontrar um meio termo que o leve a alcançar seus objetivos de crescimento econômico sustentável e redução das desigualdades.

Airton dos Santos – Economista

Subseção do Dieese no Sindnapi