*Airton Santos
Um dos problemas que não permite que a economia cresça com maior velocidade e força, são as altas taxas de juros, essas mesmas que as Centrais Sindicais e o Sindnapi foram denunciar e protestar há alguns dias na Av. Paulista.
Juros altos travam a economia, não permitem que ela cresça, que se produza mais, que se ofereça mais empregos, salários etc. Por que investir, produzir, gerar empregos, se é muito mais fácil e rentável fazer aplicações bancárias, ganhar sem riscos e sem trabalhar.
Juros altos são convenientes para os ‘donos da bufunfa’, que vivem de renda, que ganham sem fazer nada. E é essa gente que tem dinheiro, que opera no mercado financeiro, que não se importa com o resto do país, só querem multiplicar seu capital e pronto. Entre eles estão os proprietários das TVs, dos grandes jornais e das estações de rádio – a grande mídia – todos da elite social e econômica do país, que influenciam e dão as cartas na política. Ah! Não nos esqueçamos dos fundos de pensão das empresas estatais. Por que desejariam a queda dos juros?
Para proteger e preservar seus ganhos fabulosos, contam com a ajuda do Banco Central, que atua de maneira autônoma, isto é, não precisa dar satisfação à sociedade, inclusive aos três poderes da República. Mantem alta as taxas de juros, sem nenhuma necessidade, favorecendo somente o mercado financeiro, que multiplica seus ganhos. Os economistas, que são entrevistados na televisão ou escrevem nos jornais, também são do mesmo time, trabalham e pertencem todos às administrações dos grandes bancos e corretoras de valores, falam e escrevem em nome de seus patrões ou clientes (por acaso vocês já viram alguma entrevista na TV, de economista que não esteja ligado ao mercado financeiro?). Por aí a porta está fechada para o debate e para o crescimento. Prevalece um único ponto de vista, o dos bancos. Isso é poder.
Esses dois personagens poderosos, o mercado financeiro e a grande imprensa, buscam defender interesses próprios e, para isso, conspiram contra o país. Essa gente tem muita força, especulam com o dólar, com o mercado de capitais, com a dívida pública e, muitas vezes, tomam o governo como refém de suas vontades. Trata-se de um conluio nocivo aos objetivos de crescimento da nação.
Agregue-se a esses dois, um terceiro e importante personagem, o Congresso Nacional. Dominado pela direita e extrema-direita, conservadoras e até reacionárias, as duas casas legislativas, representadas pelos deputados e senadores, parecem cuidar mais de interesses próprios de seus membros, de suas respectivas carreiras políticas e de como financiá-las com recursos públicos, muitas vezes não se importando com os objetivos maiores do país: de crescimento e desenvolvimento. Organizam-se em bases fisiológicas espúrias e fazem oposição sistemática ao governo. Com poucas e honrosas exceções, estão alheios às reais necessidades da população. São poucos os projetos que buscam a melhoria da qualidade de vida do povo.
O poder executivo, ao perder parte de sua autoridade sobre a destinação dos recursos públicos, usurpado que foi pela Câmara e o Senado, deixou que lhe escapasse o controle dos gastos. Como consequência, o orçamento federal tornou-se muito pouco transparente, prejudicado em sua integridade com os vários tipos de emendas parlamentares que não definem claramente o destino e utilização dos recursos. Trata-se de práticas pouco republicanas, que o público em geral não tem conhecimento.
Por exemplo, para 2024, as emendas parlamentares baterão recorde e consumirão R$ 53 bilhões. O governo propôs R$ 940 milhões para o Fundo Eleitoral, o Congresso votou R$ 4,96 bilhões, cinco vezes mais. As emendas de comissões, que eram de R$ 6,9 bilhões em 2023, passaram para R$ 16,6 bilhões neste ano. De outro lado, para atender a todas essas demandas, foram retirados do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), R$ 6,9 bilhões. Assim, o próprio Congresso reduz os recursos destinados a investimentos necessários para alavancar o crescimento do país, melhorar a produtividade da economia e gerar empregos qualificados.
Ao mesmo tempo que, em proveito próprio, interferem no orçamento, pressionam, repercutindo o desejo dos rentistas, para um déficit zero, mesmo que isso custe aumento do desemprego e diminua os recursos destinados à Seguridade Social, sacrificando os que menos têm em benefício dos mais ricos.
Sitiado por essas forças hostis, o governo mostra pouca capacidade de reação. Insinua a solução do problema do déficit pela via de menor resistência e menos poderosa, a população mais pobre e vulnerável. Daí a conversa de uma nova reforma da Previdência, não para melhorar, mas para piorar a situação da população mais carente.
Precisamos estar atentos!
* Técnico responsável pela subseção do Dieese no Sindnapi.