De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o Brasil conta hoje com um número recorde de trabalhadores com 60 anos ou mais de idade. A transição demográfica pela qual o país está passando vai na direção do envelhecimento da população, o que, em boa parte, explica essa maior presença das pessoas idosas no mercado de trabalho. Parece, mas isso ainda não é conclusivo, que o mercado tenta se adaptar a essa nova realidade.

São cerca de 8 milhões de pessoas com 60 anos ou mais que, hoje em dia, fazem parte das estatísticas de população ocupada no país. Quando a pesquisa começou a ser realizada, em 2012, a quantidade de trabalhadores nessa faixa de idade era de 4,9 milhões, um pouco mais da metade do que é hoje.

Muitas delas nunca deixaram o mercado, mesmo aposentadas, outras obtiveram a aposentadoria e, por razões econômicas ou pessoais, retornaram ao trabalho. O sonho de se aposentar e aproveitar mais a vida, viajando e se divertindo, não é uma realidade para todos. Não nos esqueçamos que 70% dos benefícios pagos pelo INSS equivalem ao piso previdenciário de um salário mínimo e que, em média, o valor das aposentadorias e pensões do RGPS gira em torno de R$ 1.800,00.

É preciso pontuar, também, que a reforma da Previdência Social de 2019, que elevou a idade mínima de aposentadoria, forçou a permanência de muitos trabalhadores na ativa. Assim, por essa razão e pelas outras mencionadas, a expectativa é de que o fluxo de trabalhadores com mais idade no mercado de trabalho deve continuar.

Se o fato de o envelhecimento da população colocar um desafio para o equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência e Assistência Social, não deixa de preocupar, também, as empresas que, enquanto demandantes de mão de obra no mercado, precisam estar atentas a essas transformações. Em curtíssimo prazo estarão frente a uma menor oferta de trabalhadores qualificados mais jovens e terão, forçosamente, de rever suas políticas de seleção e contratação de pessoal. A questão é se o mundo empresarial está preparado para essa nova realidade. Não é o que parece.

Pesquisas revelam que 70% das empresas ainda não estudaram com maior profundidade o assunto e, muitas delas, não perceberam ou fazem descaso em relação ao etarismo, o preconceito de idade. Outras vão além. O Grupo São Martinho, proprietário de uma usina de álcool no interior do estado de São Paulo, implantou um programa que determinava a dispensa compulsória dos trabalhadores que completassem 60 anos de idade. Com ação movida pelo MP, provocado pelo Sindicato da categoria, o TRT de Campinas condenou a empresa por “conduta discriminatória e pagamento de indenização individual e coletiva, além de multa para cada nova inclusão no programa”.

As empresas ainda estão reticentes, pois não têm claro de como iniciar um processo de mudança de cultura e de ‘compliance’, mas, segundo analistas, há desejo de alteração nas políticas de RH para enfrentar uma situação concreta do mercado de trabalho.

A questão central é a diversidade geracional e como ela pode agregar ganhos às operações da empresa, uma vez que deverá haver uma integração entre o empregado sênior e o da geração Z. Há dúvidas e, portanto, algumas resistências com respeito a esse ‘arranjo geracional’.  Existem dúvidas quanto aos trabalhadores mais velhos que estão a ponto de adquirir direito à aposentadoria. Se estão de fato dispostos a se dedicarem à empresa ou se já projetam um outro momento de suas vidas futuras, longe do mercado de trabalho.

O perfil dos empregos está mudando rapidamente, com as mais diversas tecnologias alterando a maneira de produzir e de trabalhar. Nesse contexto, não raras vezes o trabalhador mais idoso deve se reinventar, qualificar-se para acompanhar as mudanças desse meio ambiente empresarial. Para isso, as pessoas devem ter oportunidades e o estado, através de políticas públicas, entender o problema e oferecer cursos e treinamentos, junto com a iniciativa privada, principalmente o ‘Sistema S’ (Sesi, Sesc, Senai, Sebrae, Sest, Senar etc.), no sentido de facilitar a reinserção e integração das pessoas mais idosas ao mercado.

Apesar do recorde de participação no mercado de trabalho, a pesquisa do IBGE também aponta o lado sombrio dessa história. Entre os trabalhadores com 60 anos ou mais, 53,5% estão na informalidade, só ficando abaixo da faixa etária de 14 a 17 anos, com 72,9% sem carteira assinada. Para complementar a renda, os mais velhos acabam se sujeitando a qualquer tipo de trabalho, sempre precários, sem nenhuma garantia trabalhista ou previdenciária e com salários baixos.

Nos últimos anos, a questão do etarismo começou a ganhar alguma relevância nas preocupações empresariais e no debate público, mas ainda está atrás de outros temas, também importantes, como gênero, raça, pessoas com deficiências e o grupo LGBTQIA+.

Airton dos Santos – Economista responsável pela Subseção do Dieese no Sindnapi