Seja por necessidade econômica, por busca de mais autonomia e continuar sendo produtivo ou pela própria exigência das mudanças demográficas pela qual passa o país, o fato é que, aos poucos, homens e mulheres com 60 anos ou mais de idade, estão voltando ao mercado de trabalho.

Há tempos a ‘geração prateada’ vinha sendo afastada do mercado, mas as recentes pesquisas a esse respeito apontam uma mudança expressiva dessa condição. Segundo o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas), em 2024 o Brasil chegou a 4,3 milhões de pessoas com 60 anos ou mais proprietárias de pequenos negócios. Um recorde. Foi um crescimento de 53% em doze anos (desde 2012). As pessoas com 60 anos ou mais já representam 14,3% do total de empreendedores, o maior percentual já registrado.

Entre os empreendedores mais idosos, também ocorre uma mudança de perfil. Está se reduzindo o espaço para empreendedores sem instrução ou que não finalizaram o ensino fundamental. Preenchem esse espaço aqueles com ensino médio completo e os que possuem curso superior. Os mercados estão se tornando cada vez mais competitivos e exigentes, com uso mais intensivo de tecnologia, obrigando, nesse sentido, a um preparo maior dos que pretendem empreender.

Outro aspecto a ser considerado refere-se à presença das mulheres nesse mercado. Hoje elas representam 29,9% dos empreendedores com mais idade, maior resultado da série histórica da pesquisa. A participação das pessoas negras, ainda baixa se comparada com as demais, também cresceu em relação a 2023.

As pesquisas também revelam que os empreendedores com 60 anos ou mais de idade têm alguns dos melhores rendimentos em seus negócios se comparados às outras faixas etárias, mesmo dedicando menos horas semanais aos negócios. Parece que a experiência de vida explica esse sucesso.   

O que está ocorrendo na economia, mais precisamente no mercado de trabalho, com essa parcela da população, não se limita somente ao empreendedorismo. De acordo com projeções do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas), ligado ao Ministério do Planejamento, 57% da força de trabalho brasileira será composta, até 2040, por trabalhadores com mais de 45 anos de idade.

O envelhecimento da população altera o funcionamento do mercado de trabalho, principalmente do mercado formal, e não poderia ser diferente. Muitas empresas, porém, parece que ainda não se atentaram para isso e insistem em não mudar suas culturas organizacionais. Estudo da PwC do Brasil, empresa de auditoria e consultoria, junto com a FGV (Fundação Getúlio Vargas), aponta que 72% dos gestores ainda preferem contratar mão de obra com idade inferior a 40 anos. Essa parece ser uma tendência que vai em sentido contrário às projeções em relação ao futuro, que aponta para o envelhecimento do mercado de trabalho.

Mas, de outro lado, há experiências exitosas. A pesquisa mostra o depoimento de Juliana Cordeiro, gerente de RH da Brasilata, uma empresa metalúrgica localizada em São Paulo. Diz ela: “as organizações que investem na inclusão de profissionais com mais de 40 anos constroem ambientes mais diversos, equilibrados e preparados para o futuro, pois oferecem uma combinação de experiência prática e estabilidade emocional, além de exercerem papel ativo na formação das equipes e contribuem para decisões mais consistentes”.

A transição demográfica brasileira, caracterizada pelo envelhecimento da população, é uma realidade. As empresas, nem todas, ainda não se deram conta disso e adiam mudanças estratégicas em suas políticas de Recursos Humanos, o que pode complicá-las num futuro não muito distante. Enquanto isso, e dando mostras de vitalidade, os ‘prateados’ vão avançando e ocupando espaço no campo do empreendedorismo, abrindo seus próprios negócios, mantendo-se ativos e produtivos. 

Airton dos Santos  –  Economista
Subseção do Dieese no Sindnapi
Maio/2025