
Os juros básicos da economia alcançaram 14,25% aa e devem continuar subindo, porém com velocidade menor. Alguns economistas projetam que até o final deste ano devem atingir 15% aa para, depois, dependendo do comportamento da economia, iniciar uma trajetória de queda.
Essa subida dos juros já estava programada antes de o atual presidente do BC assumir o cargo. O objetivo da elevação, segundo o próprio Banco Central, é o de trazer a taxa de inflação para próximo do centro da meta, de 3,5% aa. A redução da demanda e o desaquecimento do mercado de trabalho são dois pontos fundamentais para que os preços recuem e convirjam para a meta de inflação, pelos menos é o que entendem as autoridades monetárias.
O recente recuo do dólar é um dado importante para se acreditar que os preços comecem a se estabilizar. Mas não é só, o preço da energia e dos alimentos também são indicadores que, na medida em que se estabilizem, facilitam a implementação de uma política monetária menos contracionista e a redução dos juros.
Assim, uma boa safra agrícola, um regime de chuvas regulares e um câmbio comportado, podem fazer com que a inflação convirja para o centro da meta, dando espaço para uma queda dos juros. Nesse cenário, mesmo que a economia não cresça nos mesmos percentuais dos dois últimos anos, não deverá recuar e continuará a crescer, mesmo que seja num ritmo mais lento. O importante é a manutenção de algum crescimento para que se criem empregos e renda.
O crescimento, como sabemos, depende dos investimentos, tanto públicos quanto privados. O que o país necessita é a continuidade das inversões produtivas e o início de um processo de reindustrialização, para recuperar o que foi perdido nas últimas duas décadas. O Brasil tem muitas vantagens competitivas, principalmente no que diz respeito à ‘economia verde’, descarbonizada. Na área de energia, vital para qualquer projeto de desenvolvimento, contamos com a matriz energética mais limpa do mundo, com a maior parte sendo gerada pelas hidrelétricas, auxiliada pela energia fotovoltaica e eólica.Não é aceitável que nós mesmos, devido a problemas menores, criemos dificuldades para progredirmos.
Assim, é importante que o custo do capital caia para patamares que dê condições de elevar a taxa de investimentos e consequente aumento da disponibilidade de infraestrutura, principalmente energética, de transporte e comunicação. Dadas essas condições, o setor produtivo pode crescer, aumentando a produção e a competitividade do país. Mas o crescimento sustentado, de longo prazo, não irá ocorrer com o atual patamar das taxas de juros.
É vital para o futuro do país, e quando se diz isso, quer-se dizer, futuro do trabalho assalariado formal de qualidade, de salários dignos, da sustentação daPrevidência e da Assistência Social, do SUS etc. Não haverá solução para essas questões sem o crescimento econômico de longo prazo. Nessa equação, entram algumas variáveis políticas, econômicas e sociais que precisam ser entendidas em toda sua extensão e profundidade.
Quando, por exemplo, se fala das taxas de câmbio e de juros, como tanto insistimos, não devemos entendê-lascomo algo descolado do resto, como coisas distantes e desimportantes. É preciso entender que a economia capitalista funciona à base de especulação e, quanto mais o setor financeiro se sobrepõe ao setor produtivo, mais essa característica aparece. Portanto, os movimentos de juros e câmbio são resultados de expectativas e especulações daqueles que detém o poder econômico e têm condiçõesde interferir nas decisões políticas do país.
Nesse jogo não existe o ganha-ganha, a história nos mostra que, de há muito, os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais enfrentam dificuldades para sustentar uma vida digna. Quando dizemos pobres, estamos nos referindo não só àqueles que lutam por um prato de comida, mas, também, àqueles que já possuem algum conforto material, mas que sofrem, tanto no plano físico quanto psicológico, para manter certa qualidade de vida. A dança dos juros e do câmbio não é obra do Espírito Santo. São movimentos especulativos poderosos que interferem diretamente nas políticas públicas e, portanto, em nossas vidas.
Precisamos, enquanto sociedade organizada, encontrar saídas para a armadilha dos juros exorbitantes, dentre os mais altos do mundo. Sem essa saída, nossa economia continuará crescendo igual ao ‘voo da galinha’, curto e malfeito. Um país que necessita crescer e distribuir renda para reduzir a desigualdade social e econômica, que sempre caracterizou sua história, não pode, por conta própria, sacrificar a melhoria de vida da população porque alguns insistem em fixar uma meta de inflação semelhante aos países desenvolvidos da Europa Ocidental.
Airton dos Santos – Economista
Subseção do Dieese no Sindnapi
Abr./2025