
Dois fatores contribuem de forma estrutural para a maior participação de pessoas idosas no mercado de trabalho. A primeira causa dessa evolução é consequência da mudança na estrutura demográfica da população. A outra razão está ligada à reforma da previdência ocorrida em 2019 que, ao aumentar a idade mínima para a obtenção da aposentadoria, prolongou a permanência das pessoas no mercado de trabalho.
É importante lembrar que essa maior permanência de pessoas idosas no mercado ajuda a mitigar o problema de escassez de população com idade de trabalhar, fenômeno típico da transição demográfica pela qual o país atravessa. Assim, a sustentação do crescimento econômico é, em parte, devido à presença da população com 60 ou mais anos de idade em atividade na economia.
Ademais, a maior longevidade das pessoas no mercado pode ser considerada como uma forma de envelhecimento ativo, saudável e produtivo e contribui com o crescimento do país. No entanto, em todo esse quadro positivo para os mais idosos, surgem algumas preocupações que se referem à continuidade da absorção dessas pessoas pelo mercado e as questões relativas à saúde, uma vez que há uma tendência de aumento das doenças crônicas e, a partir disso, surgir algum impedimento para a permanência em atividade.
A mudança na estrutura demográfica da população fez crescer a participação de pessoas idosas na população total e, por extensão, maior presença no mercado de trabalho. De acordo com pesquisas do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, “a participação das pessoas com 60 anos ou mais de idade na força de trabalho brasileira cresceu de um patamar em torno de 5% do total dos ocupados em 2012, para um nível de 8% no final de 2024”. Isso quer dizer que a força de trabalho dessa faixa etária cresceu de cerca de 5,2 milhões de pessoas em 2012, para 8,9 milhões em 2024, acumulando um crescimento de 71,0% no período. Foi o grupo etário que mais cresceu em termos de participação no mercado.
Outro dado importante, que aponta para o aprofundamento das transformações, é que a partir de 2024 “o grupo etário com maior participação na força de trabalho deixa de ser o grupo de 25 a 39 anos e passa a ser o da faixa etária de 40 a 59 anos”, fato ilustrativo do processo de envelhecimento da força de trabalho brasileira.
A partir dos dados pesquisados, é possível fazer uma análise e estimar a probabilidade de participação das pessoas idosas no mercado de trabalho. Para fazer a estimativa, considerou-se a faixa etária de 60 a 69 anos de idade. As variáveis consideradas para se calcular a probabilidade de pessoas nessa faixa participarem do mercado de trabalho foram: (1) sexo; (2) beneficiários de aposentadoria, pensão ou BPC/LOAS e (3) escolaridade.
“A estimativa aponta que ser beneficiário reduz a probabilidade de pessoas entre 60 e 69 anos estarem na força de trabalho, em comparação àquelas pessoas que não recebem qualquer benefício. Por outro lado, ser homem e ter pelo menos o ensino médio completo aumentam a probabilidade de estar na força de trabalho, em relação a ser mulher e não possuir o ensino médio completo”.
Essas probabilidades, ainda considerando a faixa etária (60 a 69 anos), podem ser percebidas com maior facilidade quando se observa a maior taxa de participação no mercado de trabalho para homens em relação às mulheres (48,7% para homens e 24,5% para as mulheres). Igualmente para não beneficiários que beneficiários do INSS. A taxa de participação na força de trabalho dos não beneficiários é de 58,1%, enquanto a taxa dos beneficiários é de 22,4%. A participação das pessoas com pelo menos o ensino médio completo, de 43,9%, é maior que a participação das pessoas sem esse nível de escolaridade (30,8%).
Outro recorte da pesquisa informa que o “total de mulheres idosas ocupadas cresceu de 1,7 milhões para 2,8 milhões entre 2013 e 2023, ou seja, uma alta acumulada de 64,3% (aumento médio de 5,1% aa) em 10 anos. A pesquisa ainda revela que, em geral e praticamente para todas as faixas etárias, houve queda do nível de ocupação para os homens e elevação expressiva para as mulheres, em especial na faixa de 50 a 59 anos. Mesmo que o nível de ocupação das mulheres ainda ser inferior ao dos homens, é possível notar um processo de convergência ou diminuição das desigualdades entre ambos”.
Texto produzido a partir de estudo do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômica e Social), ligado ao Ministério do Planejamento.
Autor: Rogério Nagamine Costanzi.
Airton dos Santos – Economista
Subseção do Dieese no Sindnapi
Maio/2025